domingo, 13 de fevereiro de 2011

Concreto # Cultura Urbana e Contracultura

São Paulo

Arte urbana e contracultura são as principais diretrizes do mais novo centro de cultura paulistano, inaugurado em novembro de 2010, com a proposta de incentivar, democratizar e mostrar as diferentes formas de expressão que afloram na cidade grande. 


Uma casa construída nos anos 20, localizada na Vila Madalena, é a sede desse lugar que concentra exposições, ateliê, loja de produtos artísticos e espaço para cursos, que falam sobre assuntos relacionados ao tema. 

O acervo artístico da casa inclui obras de famosos artistas de rua da cidade, além de novos nomes que surgem no cenário. Desde a street art marginal de Feik até as luminárias feitas com objetos descartados de Alê Ferro (também arquiteto da casa), passando pelo pós-modernismo das telas de Vanderley Lopes, Leandro Cunha, as ilustrações retro-pop de Sergio Barbo e a “arte-sacra torta” de Jonnhy Lazz.  

A arquitetura, projetada por Alê Ferro, une sustentabilidade a design. A reforma do local foi feita a partir do reaproveitamento de materiais já utilizados, com madeiras virando banco, rampa feita a partir do antigo piso, reforma de cadeiras e a reutilização das janelas, além de alguns objetos que foram resgatados de ferro-velho. 

Na área externa há um lounge com wi-fi, decorado com toques de arquitetura modernista, por um painel feito pelo artista Leandro Cunha, além de uma jabuticabeira plantada nos anos 1920, concreto aparente e uma parede de plantas. 

É nesse espaço, com trilha sonora baseada em bandas que, de algum modo, revolucionaram a música urbana, de Velvet Underground e John Coltrane a Mutantes e Secos & Molhados, que o visitante encontra diversificadas opções gastronômicas: comida vegetariana contemporânea, petiscos, sobremesas, além de drinks, cafés e chope artesanal da microcervejaria de Campinas, Bamberg. 

Por fim, a loja da Concreto oferece uma seleção de produtos de artistas e designers brasileiros e livros sobre contracultura, cultura urbana, movimentos revolucionários, música e arte.  

Serviço:

Concreto # Cultura Urbana e Contracultura
End.: Rua Fradique Coutinho, 1209 – Vila Madalena – zona oeste – São Paulo
Tel.: (11) 2615 8555

Fonte: cidadedesaopaulo.com

Muito além da UPP

Rio de Janeiro

A limpeza étnica em torno dos enclaves fortificados dos ricos

Por Rapper Fiell, coordenador do Coletivo de Hip-hop VISÃO DA FAVELA BRASIL, morador do morro Santa Marta
Rapper Fiell
Há mais de dois anos da implantação da UPP (Unidade de Policia Pacificadora) no morro Santa Marta, Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro. O que melhorou? Aqui apresento uma ótica de quem vive lá.
Já estamos em 2011, e ainda quase nada de melhoria coletiva chegou ao morro do Santa Marta. Sim, medidas paliativas sim, isso chegou e irá chegar sempre. Eu me refiro a mudanças
revolucionárias, onde o povo poderá viver de forma igualitária, com mais saúde, moradia digna, alimentação de qualidade. Isso não chegou e vai além da UPP.

FALO ALÉM DA UPP
Falo além da UPP, porque me lembro de toda a midiática em prol da UPP, chamada de “revolução”. Isso fez até os próprios policiais acreditarem que eles realmente são revolucionários. Certo dia eu conversei com um deles e ele me afirmou que trouxe melhorias para a favela Santa Marta. Eu em seguida o perguntei se ele poderia fazer uma reforma na minha casa, pois está com várias infiltrações. Ele ficou sem me responder.
Agora, eu quero tirar a UPP desse texto e falar sobre a nossa vida hoje no morro Santa Marta. O desafio que será para todos os moradores permanecerem neste território de negócios para a especulação imobiliária. Vejo um outro morro Santa Marta, onde moram estudantes de classe media, estrangeiros. Onde há disputa para alugar um barraco de dois metros quadrados pela quantia de R$ 350.
Câmeras de vigilância por todo o Santa Marta reforçam o estado de vigilância e coerção policial
Vejo bar se transformando em república, vejo bares tendo que se adaptar à tendência de ser empreendedor. Vejo as marcas excedentes de bebidas alcoólicas nesses bares, em troca de cadeiras e mesas. Vejo também muitos comércios agonizando para resistir à morte, demitindo funcionários e aumentando seus preços.
Cadê a melhoria que falaram tanto na TV Globo e nos outros meios de comunicação? A Globo viveu ineditamente 30 dias aqui no Santa Marta durante o dia para mostrar as melhorias. Mas nunca nos deu voz. Agora, existe uma melhoria que eu também reconheço: diminuíram as armas nas mãos dos civis e hoje não ouvimos mais tiros a esmo. O número de mortes com armas letais reduziu. Isso é muito bacana e direito nosso, já que no Brasil não vivemos em uma guerra. Porém, sabemos quem bota essas armas nas mãos dos consumistas do tráfico. E não é morador de favela não.
QUEM BOTA ARMA DENTRO DAS FAVELAS?
Fiz uma pesquisa e constatei que para nós trabalhadores e moradores das favelas da Zona Sul, para sobreviver só com esses quatro itens: aluguel (R$ 350 mensais), café da manhã (R$ 3,50 por dia, total de R$ 105 em 30 dias), almoço (R$ 7 por dia, total de 210 em 30 dias), jantar (R$ 7 por dia, total de 210 em 30 dias) terá que desembolsar a quantia de: 875,00 reais. Vale lembrar que o salário mínimo é de R$ 530. Eu não incluo comprar leite, gás de cozinha, remédio, roupa, pagar conta de luz, TV a cabo etc.
ATÉ AS OLIMPÍADAS, ONDE ESTAREMOS?
Até a chegada das Olimpíadas, não sei se estaremos aqui no morro Santa Marta. Hoje, mais do que nunca, temos um custo de vida muito caro. A nossa conta de luz chega com valores aleatórios. No mês passado eu paguei R$50, sem ninguém ficar em casa, pois trabalhamos o dia todo fora. Nesse paguei R$ 45. Tenho conhecimento que alguns moradores estão pagando R$ 80, R$100. Cadê a tarifa social?
Sutilmente, estão “higienizando” a favela, sem que a totalidade dos moradores perceba. A mídia pulveriza a mente do trabalhador com o slogan de favela modelo e que temos que agradecer ao santo Sérgio Cabral governador do Rio de Janeiro. O Presidente Lula veio ao morro Santa Marta em setembro de 2010 e propagou que temos que esquecer o nome favela, pois esse já passou e é feio. Mas ninguém comenta a omissão com os moradores do pico do morro, pois lá não chegou absolutamente nada de urbanização. Toda essa transição beneficiou alguém: os enclaves fortificados dos ricos. Esses estão felizes da vida, com o aumento dos seus imóveis, de R$150 mil para R$300 mil e R$ 400 mil etc.

QUEM FAZ OS BAILES FUNKS
Hoje não podemos realizar o baile funk no morro, mas os blocos de fora do morro fazem seus eventos aqui e rola mais do que um baile funk. A UPP também faz suas festas, e não tem nenhum problema.
Faço uma convocação para todos os trabalhadores que querem residir nas favelas, principalmente da Zona Sul. Vamos nos organizar porque as remoções vão vir e toda nossa historia irá virar mais um livro para sociólogos e pesquisadores que não moram em favelas.
Fonte: Vírus Planetário

O prefeito Eduardo Paes (Rio de Janeiro) contrata policial bandido para roubar camelôs e fazer remoções

Rio de Janeiro

O MUCA, Movimento Unido dos Camelôs, faz denuncia da truculência da Guarda Municipal, que rouba mercadoria dos ambulantes, pois a operação é feita sem emitir o auto de apreensão e quando este cidadão vai buscar as mercadorias, com a nota fiscal, muitas vezes não encontra ou consegue retirar apenas uma parte. Quando o trabalhador vai a delegacia fazer um boletim de ocorrência do roubo e da agressão física, são negados ou fazem a ocorrência registrando que o camelô agrediu o guarda municipal. Nestas operações surgem policiais a paisana com armas em punho enquadrando os trabalhadores informais.

Agora entendemos como é feito este conluio entre a Guarda Municipal e a Polícia Civil. O noticiário recente exibe a prisão do delegado Carlos Oliveira, por vender armamento aos traficantes e traficar informações ao crime organizado. Este delegado era até então o grande orientador das políticas operacionais da SEOP (Secretaria Especial de Ordem Pública do Município). Não há exagero em apontar as práticas fascista desta secretaria, que também faz as remoções das famílias que estão em área de risco e das que deveriam ser justa e previamente indenizadas para a construção das obras da Copa do Mundo e das Olimpíadas, mas se não aceitam como justas as propostas de valor irrisório da Prefeitura, são despejadas sem direito a decisão judicial, com a violência que caracteriza a SEOP.
A 7ª Promotoria da Cidadania do Ministério Público Estadual realiza um Inquérito sobre as práticas do “Choque de Ordem”, nós desejamos que as apurações sejam feitas de forma a demonstrar como o Eduardo Paes realiza o cerceamento dos direitos de defesa do cidadão, investigando as ocorrências nas delegacias de polícia e finalizando com a proposta de um Termo de Conduta, que proíba a contratação de delegados e policiais da polícia civil ou militar para trabalhar na SEOP.
No próximo ano haverá eleições municipais e o atual prefeito Eduardo Paes aparece na mídia comercial como grande preparador da cidade para a Copa do Mundo e Olimpíadas, realmente ele prepara a cidade para os grandes empresários: empreiteiros, hoteleiros, o capital transnacional e políticos associados auferirem o máximo de lucros, mas a população carente de escolas, hospitais e moradia não deve eleger este projeto que beneficia uma minoria de ricos empresários.

Veja Também
Rapa vs Camelô; Site faz comparação entre o jogo GTA e o Choque de Ordem.

A violência que a mídia não vê; Por Marcelo Salles para o Fazendo Média

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Chega a Cuba o primeiro cabo submarino de fibra ótica

América Latina
Cabo submarino de fibra ótica ligando Cuba e Venzuela chegou à ilha caribenha após uma viagem de 19 dias do barco francês Ille de Batz, como parte da primeira etapa do sistema ALBA1. Conexão física entre as duas nações derruba séculos de isolamento e abre uma brecha no bloqueio estadunidense contra Cuba. Embaixadores da China, Jamaica e França, que apóiam o projeto, participaram da histórica cerimônia de chegada do cabo submarino em solo cubano.
O cabo submarino de fibra ótica que enlaça Cuba com Venezuela tocou terra hoje na praia de Siboney, nesta província oriental, como parte da primeira etapa do sistema ALBA 1.

O vice-presidente cubano Ramiro Valdés encabeçou o ato de recepção junto a Hamadou Touré, secretário geral da União Internacional de Telecomunicações; Manuel Fernández, vice-ministro de Telecomunicações de Venezuela, e outras personalidades.

Wilfredo Morales, presidente da Empresa de Telecomunicações Gran Caribe, a cargo das obras, expressou que se cumpriu o cronograma e em julho próximo deve entrar em operações o sistema, que chegará até Oito Rios, na vizinha Jamaica.

Fez uma contagem deste empenho, iniciado em 2007 pelo presidente Hugo Chávez com a criação dessa entidade mista e com um ponto culminante com a viagem de 19 dias do barco francês Ille de Batz, que trouxe a conexão a costa cubana. Manuel Fernández realçou o simbolismo da conexão física entre as duas nações, que derruba séculos de isolamento. 

O Ministro cubano da Informática e as Comunicações, Medardo Díaz, realçou que o cabo submarino abre uma brecha no bloqueio estadunidense contra Cuba e reforçar a soberania nacional nas telecomunicações.

Destacou que o sistema tem bases auto-sustentaveis e sem ânimos de lucro, como uma ferramenta que fortalecerá o desenvolvimento dessa esfera no país e na região.

Os embaixadores da China, Jamaica e França compartilharam com diretores e trabalhadores das empresas envolvidas no tendido do cabo e as pessoas do Conselho Popular Siboney, ponto de acesso desse talento tecnológico.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Inauguração oficial do Ponto de Cultura Observatório do Hip-Hop

Rio de Janeiro
No dia 22 de janeiro, o CLAM inaugurou oficialmente as ações do Ponto de Cultura Observatório do Hip-Hop. Localizado em Monjolos, o PdC oferecerá no ano de 2011 oficinas de break e audiovisual, além da realização de rodas de conversas temáticas com a comunidade. Nestas rodas de conversas mensais, haverá sempre um convidado externo que será o provocador da discussão.
Há semanas a comunidade vinha se reunindo para a realização de mutirão para pequenos consertos no espaço, que finalmente está pronto para receber o público.
Na manhã de sábado os eletricistas Luiz e Wellington Federico deram os últimos retoques na rede elétrica do lugar. Na parte da tarde, pouco a pouco foram chegando parceiros que sempre nos deram força para a concretização dos sonhos do CLAM: Isac Maia, Fabíola Oliveira, Banto Palmarino, Nádia Prestes, Kaléo e Pluto. Também contamos com a presença do grupo gaúcho “Nação Periférica”.
A comunidade finalmente pôde realizar as inscrições para as atividades do PdC, tendo praticamente esgotado as 50 vagas oferecidas.
Após a rodada de apresentações, os parceiros do CLAM teceram alguns comentários de incentivo e congratulações pela concretização do projeto. Em seguida, a pedagoga e empresária Fabíola Oliveira realizou uma performance de contação de histórias que encantou crianças e adultos. A história foi “Menina Bonita do Laço de Fita”, de Ana Maria Machado. Na seqüência, os jovens do “Nação Periférica” esquentaram o clima com sua percussão mixada com break, que abriu a cena para os b.boys do CLAM realizarem sua apresentação e encerrarem a noite em alto estilo.
Fonte: http://observatoriodohiphop.wordpress.com/

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Rio de Janeiro

Manifesto Público de Organizações de Direitos Humanos 
sobre os acontecimentos no Alemão e na Vila Cruzeiro

Há três semanas, as favelas do Alemão e da Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, se tornaram o palco de uma suposta “guerra” entre as forças do “bem” e do “mal”. A “vitória” propagada de forma irresponsável pelas autoridades – e amplificada por quase todos os grandes meios de imprensa – ignora um cenário complexo e esconde esquemas de corrupção e graves violações de direitos que estão acontecendo nas comunidades ocupadas pelas forças policiais e militares. Mais que isso, esta perspectiva rasa – que vende falsas “soluções” para os problemas de segurança pública no país – exclui do debate pontos centrais que inevitavelmente apontam para a necessidade de profundas reformas institucionais.

Desde o dia 28 de novembro, organizações da sociedade civil realizaram visitas às comunidades do Alemão e da Vila Cruzeiro, onde se depararam com uma realidade bastante diferente daquela retratada nas manchetes de jornal. Foram ouvidos relatos que denunciam crimes e abusos cometidos por equipes policiais. São casos concretos de tortura, ameaça de morte, invasão de domicílio, injúria, corrupção, roubo, extorsão e humilhação. As organizações ouviram também relatos que apontam para casos de execução não registrados, ocultação de cadáveres e desaparecimento.

Durante o processo, a sensação de insegurança e medo ficou evidente. Quase todos os moradores demonstraram temor de sofrerem represálias e exigiram repetidamente que o anonimato fosse mantido. E foi assim, de forma anônima, que os entrevistados compartilharam a visão de que toda a região ocupada está sendo “garimpada” por policiais, no que foi constantemente classificado como a “caça ao tesouro” do tráfico.

A caça ao tesouro

É um escândalo: equipes policiais de diferentes corporações, de diferentes batalhões, se revezam em busca do dinheiro, das jóias, das drogas e das armas que criminosos teriam deixado para trás na fuga; em lugar de encaminhar para a delegacia tudo o que foi apreendido, as equipes estão partilhando entre elas partes valiosas do “tesouro”. Aproveitando-se do clima de “pente fino”, agentes invadem repetidamente as casas e usam ameaças e técnicas de tortura como forma de arrancar de moradores a delação dos esconderijos do tráfico. Não bastasse isso, praticam a extorsão e o roubo de pequenas quantias e de telefones celulares, câmeras digitais e outros objetos de algum valor.

Apesar deste quadro absurdo, o governo do estado do Rio de Janeiro tenta mais uma vez esvaziar e desviar o debate, transformando um momento de crise em um momento triunfal das armas do Estado. Nem as denúncias que chegaram às páginas de jornais – como, por exemplo, as que apontam para a fuga facilitada de chefes do tráfico – foram respondidas e investigadas. Independente disso, os relatos que saem do Alemão e da Vila Cruzeiro escancaram um fato que jamais pode ser ignorado na discussão sobre segurança pública no Rio de Janeiro: as forças policiais exercem um papel central nas engrenagens do crime. Qualquer análise feita por caminhos fáceis e simplificadores é, portanto, irresponsável. E muitas vezes, sem perceber, escorregamos para estas saídas.

Direcionar a “culpa” de forma individualizada, por exemplo, e fazer a separação imaginária entre “bons” e “maus” policiais é uma das formas de se esquivar de debates estruturais. Penalizar o policial não altera em nada o cenário e não impede que as engrenagens sigam funcionando. Nosso papel, neste sentido, é avaliar os modelos políticos e as falhas do Estado que possibilitam a perversão da atividade policial. Somente a partir deste debate será possível imaginar avanços concretos.

Diante do panorama observado após a ocupação do Alemão, as organizações de direitos humanos cobram a responsabilidade dos Governos e exigem que o debate sobre a reforma das polícias seja retomado de forma objetiva. Nossa intenção aqui não é abarcar todos os muitos aspectos desta discussão, mas é fundamental indicarmos alguns aspectos que achamos essenciais.


Falta de transparência e controle externo



A falta de rigor do Estado na fiscalização da atuação de seus agentes, a falta de transparência nos dados de violência, e, principalmente, a falta de controle externo das atividades policiais são fatores que, sem dúvida, facilitam a ação criminosa de parte da polícia – especialmente em comunidades pobres, distantes dos olhos da classe média e das lentes da mídia. E os acontecimentos das últimas semanas realmente nos dão uma boa noção de como isso acontece.

Apesar dos insistentes pedidos de entidades e meios de imprensa, até hoje, não se sabe de forma precisa quantas pessoas foram mortas em operações policiais desde o dia 22. Não se sabe tampouco quem são esses mortos, de que forma aconteceu o óbito, onde estão os corpos ou, ao menos, se houve perícia, e se foi feita de modo apropriado. A dificuldade é a mesma para se conseguir acesso a dados confiáveis e objetivos sobre número de feridos e de prisões efetuadas. As ações policiais no Rio de Janeiro continuam escondidas dentro de uma caixa preta do Estado.


Na ocupação policial do Complexo do Alemão em 2007, a pressão política exercida por parte deste mesmo coletivo de organizações e movimentos viabilizou, com a participação fundamental da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, um trabalho independente de perícia que confirmou que grande parte das 19 mortes ocorridas em apenas um dia tinham sido resultado de execução sumária. Foram constatados casos com tiros à queima roupa e pelas costas, disparados de cima para baixo, em regiões vitais, como cabeça e nuca. Desta vez, não se sabe nem quem são, quantos são e onde estão os corpos dos mortos..



Para que se tenha uma ideia, em uma favela do Complexo do Alemão representantes das organizações estiveram em uma casa completamente abandonada. No domingo, dia 28, houve a execução sumária de um jovem. Duas semanas depois, a cena do homicídio permanecia do mesmo jeito, com a casa ainda revirada e, ao lado da cama, intacta, a poça de sangue do rapaz morto. Ou seja, agentes do Estado invadiram a casa, apertaram o gatilho, desceram com o corpo em um carrinho de mão, viraram as costas e lavaram as mãos. Não houve trabalho pericial no local e não se sabe de nenhuma informação oficial sobre as circunstâncias da morte. Provavelmente nunca saberemos com detalhes o que de fato aconteceu naquela casa.


“A ordem é vasculhar casa por casa...”



Por outro lado, o próprio Estado incentiva o desrespeito às leis e a violação de direitos quando informalmente instaura nas regiões ocupadas um estado de exceção. Os casos de invasão de domicílio são certamente os que mais se repetiram no Alemão e na Vila Cruzeiro. Foi o próprio coronel Mario Sérgio Duarte, comandante da Polícia Militar do Rio de Janeiro, quem declarou publicamente que a “ordem” era “vasculhar casa por casa”, insinuando ainda que o morador que tentasse impedir a entrada dos policiais seria tratado como suspeito. Mario Sérgio não apenas suprimiu arbitrariamente o artigo V da Constituição, como deu carta-branca à livre atuação dos policiais.

Em qualquer lugar do mundo, a declaração do coronel seria frontalmente questionada. Mas a naturalidade com que a fala foi recebida por aqui reflete uma construção histórica que norteia as ações de segurança pública do estado do Rio de Janeiro e que admite a favela como território inimigo e o morador como potencial criminoso. Em comunidades pobres, o discurso da guerra abre espaço para a relativização e a supressão dos direitos do cidadão, situação impensável em áreas mais nobres da cidade. De fato, a orientação das políticas de sucessivos governos no Rio de Janeiro tem sido calcada em uma visão criminalizadora da pobreza.

Em meio a esse caldo político, as milíciasformadas por agentes públicos – em especial por policiais – continuam crescendo, se organizando como máfia por dentro da estrutura do Estado e dominando cada vez mais bairros e comunidades pobres no Rio de Janeiro. No Alemão e na Vila Cruzeiro, comenta-se que parte das armas desviadas por policiais estaria sendo incorporadas ao arsenal destes grupos. Especialistas avaliam com bastante preocupação a forma como o crime está se reorganizando no estado.

Mas isto continua tendo importância secundáriana pauta dos Governos. De olhos fechados para os problemas estruturais do aparato estatal de segurança, seguem apostando em um modelo militarizado que não é direcionado para a desarticulação das redes do crime organizado e do tráfico de armas e que se mostra extremamente violento e ineficaz.
Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2010.
Assinam:
Justiça Global
Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência
Conselho Regional de Psicologia – RJ
Grupo Tortura Nunca Mais - RJ
Instituto de Defensores de Direitos Humanos
Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Petrópolis